BIBLIOTECÁRIA, COM MUITO ORGULHO!

 


Pouca gente sabe o que é a profissão bibliotecário ou mesmo qual é o real valor de um profissional desse nível, onde ele pode atuar ou até mesmo, e pasme com a ignorância, se é preciso fazer faculdade para ser um bibliotecário! 

Minha carreira nessa área teve início quando, iniciei o curso Técnico em Biblioteconomia, no ano 2000, pelo Senac, por meio de um projeto do Governo do Estado de São Paulo, na época Mário Covas, chamado "Programa Profissão". Desse curso, tirei o melhor proveito e dei o meu melhor para aprender o máximo possível com os meus educadores, eu sempre fui uma pessoa ávida por conhecimento e durante o curso técnico não foi diferente e, quando estava quase finalizando o meu curso fui convidada para fazer um trabalho de informatização de uma biblioteca em uma escola construtivista e nessa escola conheci de perto a minha verdadeira vocação. É claro que eu já sabia desde o colegial, ou talvez desde que aprendi a ler, que a minha profissão estaria relacionada com os livros, mas ao trabalhar em uma escola, fazer atendimento, cadastros, empréstimos e o melhor de tudo, fazer contações de história, tive a confirmação de que não escolhi errado, de que nunca escolhi a biblioteconomia no calor do momento, na verdade a biblioteconomia me escolheu há muitos anos, quando eu ajudava as professoras da minha escola a guardarem os livros, a fazerem as fichas de cadastro, a fazer empréstimo para meus colegas e as cobranças dos livros em atraso, nunca nessa vida vou poder esquecer das pessoas que mais admirei na minha escola, as professora Cléa e Rosa Clara, porque aquelas duas, mesmo sendo professoras readaptadas cuidavam tão bem da biblioteca, correram atrás de cursos para poder organizar a biblioteca e encontrar os livros com facilidade a fim de facilitar a vida daqueles que buscavam os livros e também a vida delas na hora de armazená-los de forma correta; elas conheciam cada cantinho daquela biblioteca e sabiam onde estava cada livro e, foi nelas que eu me inspirei quando escolhi fazer técnico em biblioteconomia, o que foi uma pena é que nenhuma das duas souberam dessa minha escolha e, se ainda estiverem vivas, também não sabem que graças a elas, ao exemplo delas como profissionais apaixonadas e comprometidas com seu trabalho, faz 12 anos que sou formada bibliotecária, e faz 22 anos que sou técnica em biblioteconomia e que atuo nessa área.

É preciso dizer que para ser bibliotecário a pessoa necessita ter mais do que vocação, paixão e força de vontade, e resiliência para permanecer nessa área, porque não é tudo um conto de fadas saído de Alice no país das maravilhas. Não há status, reconhecimento, muitas vezes até o respeito para com o seu trabalho e todos os anos que você passou com o nariz enfiado nos livros aprendendo técnicas de catalogação, arranjos, taxonomias, organização, administração, desenvolvimento de acervo, etc. e tals, nunca é colocado na balança quando chega a hora de abrir uma vaga para bibliotecário. Você passou quatro longos anos da sua vida estudando e mais alguns se aprimorando, se mantendo em dia, mas que nunca, nessa área, recebeu uma proposta de trabalho com afazeres de mais e benefícios de menos e um salário que chega até a ser indecente? E o que não dizer daqueles que se formaram e desde então nunca trabalharam na área? E os que nem se registraram no Conselho porque nunca tiveram nem a chance de trabalhar como bibliotecário? Eu tive colega de turma que não trabalham na área. Incompetência deles? Duvido muito. Para mim, não foi fácil abrir o meu caminho até aqui. Já aceitei empregos onde de auxiliar de biblioteca me deram uma promoção ridícula de "Auxiliar de biblioteca chefe", essa foi de longe a minha maior vergonha. Eles precisavam menos de mim como profissional? Não! Então, por que eu aceitei essa humilhação? A pergunta não é bem essa, não é mesmo? Na verdade a questão é, onde estava o conselho que regulamenta a minha profissão que permite bizarrices como essas??? Sim, porque o meu salário era o mesmo valor de um bibliotecário Jr. e eu desenvolvia as mesmas atividades de um, mas os conselhos profissionais não servem para regulamentar, repreender, comer seu dinheiro, verificar se eu estou exercendo minha profissão sem pagar, etc.? Coisas assim deveriam ser proibidas por lei, assim como salários ridículos, mas não são. Tem instituição que só tem bibliotecário para atender uma exigência do MEC e, nesse caso, quando você cai numa cilada dessas, você, bibliotecário, faz parte da lista "tem" e nada mais, não precisa se empolgar com seu trabalho, porque a biblioteca é fachada para aprovar curso, livro defasado, espaço de menos ou qualquer tipo de melhora, não irá acontecer.

Às vezes acontece de você ir parar em uma OS da vida e um cabide de emprego querer sua vaga para colocar outra pessoa, então ele fará de tudo para te derrubar, principalmente que nesses lugares, os cargos de confiança são sempre dos cabides (mas não se preocupe, você passa por processo seletivo, porque bibliotecário não é ninguém na fila do pão para uma OS) e, se acontece desse cabide ser o gerente da instituição onde você trabalha e não tem QI para administrar uma privada, está ali porque tem relações políticas, se prepare, se você é o tipo que não aceita que venham ciscar no seu setor, principalmente um ser que não sabe do que você está falando, mas mesmo assim quer administrar sua equipe por você, acredite, você terá problemas sérios com essa pessoa e, pode ser que ela quase te leve a tirar a causa mais preciosa que é a sua vida, acredite, ninguém merece a sua vida e nunca mais faça isso por causa de ninguém, se você se sentir perseguido outra vez, denuncie e ponto. Ninguém merece sua vida, muito menos um zero à esquerda! E, mesmo que colegas te façam parecer louca por insegurança porque você entrou na instituição e acha que não será mais necessária então é melhor provocar logo a sua demissão, perdoe e siga em frente, você não sabe o que a vida reserva para essa criatura no futuro. 

É..., eu já passei por cada coisa trabalhando nessa área de biblioteconomia! Parece que ao contar tudo isso fiz parecer que não é uma boa escolher ser bibliotecário, não é mesmo? Fiz parecer isso, porque para mim não foi, não é e não tem sido fácil! Mas eu não poderia escolher outra coisa. Faria tudo outra vez! É a minha paixão. A biblioteconomia está em tudo: hospitais, empresas, escolas, faculdades, tecnologias da informação, você não faz ideia de como essa área é vasta e linda. O meu problema é que eu me identifico muito com a educação e parece que não dão o devido valor ao profissional bibliotecário nessa área, assim como não valorizam os educadores, mas não é porque em determinados setores não entendem o valor da informação, o tratamento dela e disseminação da mesma, que todos os setores sejam assim, porque eu conheço gente brasileira, bibliotecária, que ganha muito bem em francos suíços e mora em Genebra, é claro que sua linha de trabalho é outra, tudo depende da área que você escolhe trabalhar após se formar, como um médico que se especializa em determinada área, a minha é escolar, não tem jeito, é disso que eu vivo, é assim que me sinto feliz e realizada, mesmo que pouco reconhecida financeiramente, porque não há reconhecimento maior e que me deixa mais feliz do que quando estou em uma roda de crianças contando uma história e eu vejo os rostos e atenções voltados para aquela história e a esperança de tocar pelo menos um coraçãozinho de depois pegar o livro para ler e, não só para esses, mas para qualquer pessoa, não importa quanto eu ganhe ou o meu prestígio, eu nunca vou deixar de sentir o imenso orgulho que sinto aqui dentro, mesmo quando fui ridicularizada com o cargo de "Auxiliar de biblioteca chefe", isso nunca tirou de mim a verdade e o orgulho de ser quem eu sou: bibliotecária, com muito orgulho sim!     

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